Escassez de água no horizonte
O futuro de boa parte da humanidade pode ser comprometido pela falta do mais básico dos bens: a água
Almanaque Abril - 2008
O alerta é da ONU, que já traça um cenário atual bastante difícil: mais de 1 bilhão de pessoas - cerca de 18% da população mundial - estão sem acesso a uma quantidade mínima de água de boa qualidade para consumo.
A questão é que, mantidos os atuais padrões de consumo e de danos ao meio ambiente, o quadro pode piorar muito e rapidamente: calcula-se que, em 2025, dois terços da população global - 5,5 bilhões de pessoas - poderão ter dificuldade de acesso à água potável; em 2050, já seria cerca de 75% da humanidade.
O drama diz respeito à sede e à escassez de água para cozinhar, tomar banho e plantar, mas também à disseminação de doenças causadas pela ausência de tratamento da água, como diarréia e malária.
DESIGUALDADES - Se considerarmos todo o planeta, veremos que a distribuição de água doce na natureza é desequilibrada entre as várias regiões. Alguns países dispõem de mais água do que seus habitantes necessitam, enquanto outros estão situados em regiões extremamente secas, como o norte da África, o Oriente Médio e o norte da China.
Canadá, Islândia e Brasil são países favorecidos pela natureza em relação à água potável. Esse desequilíbrio faz com que um canadense possa gastar até 600 litros de água por dia e um africano disponha de menos de 30 litros diários para beber, cozinhar, fazer a higiene, irrigar plantações e sustentar rebanhos.
MÁ UTILIZAÇÃO - Uma das próximas vítimas mundiais do estresse hídrico pode ser a China, e num espaço de tempo curto: 20 anos. O país tem 20% da população mundial e 7% dos recursos hídricos globais. Metade das cidades chinesas já padece com a escassez de água.
No norte do país, mais árido, o lençol freático está exaurido; no sul, onde as fontes são mais abundantes, a poluição atinge os maiores rios. Para o Banco Mundial, caso a China continue a crescer demográfica e economicamente como hoje, 30 milhões de chineses estarão sem água em 2030.
A principal causa da escassez de água potável é o mau uso. Estima-se que, de cada 100 litros de água própria para consumo, 60 se percam em razão de maus hábitos ou de distribuição ineficiente. Um dos exemplos mais gritantes é o do Mar de Aral, na Ásia, que perdeu três quartos de volume de água por causa de projetos desastrosos de irrigação.
A agropecuária é a atividade que mais consome água no mundo. Calcula-se que as plantações respondam por 69% de seu uso. A indústria utiliza 21% e o consumo doméstico responde por 10%.
USO CONSCIENTE - Graças à popularização crescente da idéia do uso sustentável dos recursos naturais, há meios para reverter esse quadro. Medidas simples e ao alcance de todos, como reduzir o tempo de banho e fechar a torneira ao escovar os dentes ou ensaboar a louça, podem resultar em até um terço de economia na utilização doméstica.
As mudanças no uso econômico, tanto agrícola quanto industrial, também podem cortar o consumo. Parte importante, porém, cabe aos governos, responsáveis por investimentos para resolver problemas estruturais.
Os vazamentos na rede de fornecimento drenam boa parte da água tratada. Há estimativas de que, em certos países, até 70% da água que sai dos reservatórios não chegue às torneiras, escoando por encanamentos mal conservados.
No Brasil, calcula-se que essa perda fique em 45%. A ampliação das estações e redes de tratamento de água é outro aspecto básico para fazer frente ao aumento do consumo. Afinal, do início ao fim do século XX, o uso humano de água aumentou seis vezes no mundo, sob o dobro do crescimento da população no mesmo período.
BRASIL EM BERÇO ESPLÊNDIDO - O Brasil é privilegiado com relação aos recursos hídricos: 12% da água doce superficial do planeta corre em rios nacionais. Esse percentual é o dobro de todos os rios da Austrália e da Oceania; 42% superior aos da Europa; e 25% a mais do que os do continente africano.
Claro que, como ocorre em outros lugares, esses recursos estão geograficamente mal distribuídos. A região amazônica, na qual vivem apenas 5% dos brasileiros, acumula 74% de toda a água nacional.
A boa situação do país também se repete com relação às águas subterrâneas, os aqüíferos. Ao todo, o país dispõe de 27 aqüíferos, sendo o principal o Guarani, neste caso, localizado sob as regiões Centro-Oeste, Sul e Sudeste.
Mesmo assim, há problemas de longa data nunca resolvidos. O principal diz respeito ao abastecimento de água para parte da população do semi-árido nordestino. Nos últimos anos, a situação tem melhorado graças ao uso de carros-pipa e à construção de açudes e de cisternas.
Além disso, o governo federal começou as obras para a transposição das águas do rio São Francisco. A obra, porém, é polêmica: para seus defensores, vai garantir o abastecimento de água para populações em zonas críticas de seca; para os críticos, poderá prejudicar seriamente o São Francisco.
O alerta é da ONU, que já traça um cenário atual bastante difícil: mais de 1 bilhão de pessoas - cerca de 18% da população mundial - estão sem acesso a uma quantidade mínima de água de boa qualidade para consumo.
A questão é que, mantidos os atuais padrões de consumo e de danos ao meio ambiente, o quadro pode piorar muito e rapidamente: calcula-se que, em 2025, dois terços da população global - 5,5 bilhões de pessoas - poderão ter dificuldade de acesso à água potável; em 2050, já seria cerca de 75% da humanidade.
O drama diz respeito à sede e à escassez de água para cozinhar, tomar banho e plantar, mas também à disseminação de doenças causadas pela ausência de tratamento da água, como diarréia e malária.
DESIGUALDADESSe considerarmos todo o planeta, veremos que a distribuição de água doce na natureza é desequilibrada entre as várias regiões. Alguns países dispõem de mais água do que seus habitantes necessitam, enquanto outros estão situados em regiões extremamente secas, como o norte da África, o Oriente Médio e o norte da China.
Canadá, Islândia e Brasil são países favorecidos pela natureza em relação à água potável. Esse desequilíbrio faz com que um canadense possa gastar até 600 litros de água por dia e um africano disponha de menos de 30 litros diários para beber, cozinhar, fazer a higiene, irrigar plantações e sustentar rebanhos.
Nas regiões mais secas da Terra, as populações locais vivem numa situação que se convencionou chamar de "estresse hídrico". Trata-se de uma combinação de fatores ambientais (como a falta de chuvas) e socioeconômicos (alto crescimento demográfico) que resulta em pessoas demais e água de menos. Isso nem sempre ocorre, porém, em razão da falta de recursos hídricos.
A África Subsaariana, por exemplo, é atravessada por grandes rios, e seu índice pluviométrico anual é considerado alto. No entanto, os países da região, entre os mais pobres do mundo, não possuem infra-estrutura para aproveitar mais que 3,8% da vazão total de seus rios.
MÁ UTILIZAÇÃOUma das próximas vítimas mundiais do estresse hídrico pode ser a China, e num espaço de tempo curto: 20 anos. O país tem 20% da população mundial e 7% dos recursos hídricos globais. Metade das cidades chinesas já padece com a escassez de água.
No norte do país, mais árido, o lençol freático está exaurido; no sul, onde as fontes são mais abundantes, a poluição atinge os maiores rios. Para o Banco Mundial, caso a China continue a crescer demográfica e economicamente como hoje, 30 milhões de chineses estarão sem água em 2030.
A principal causa da escassez de água potável é o mau uso. Estima-se que, de cada 100 litros de água própria para consumo, 60 se percam em razão de maus hábitos ou de distribuição ineficiente. Um dos exemplos mais gritantes é o do Mar de Aral, na Ásia, que perdeu três quartos de volume de água por causa de projetos desastrosos de irrigação.
A agropecuária é a atividade que mais consome água no mundo. Calcula-se que as plantações respondam por 69% de seu uso. A indústria utiliza 21% e o consumo doméstico responde por 10%.
USO CONSCIENTEGraças à popularização crescente da idéia do uso sustentável dos recursos naturais, há meios para reverter esse quadro. Medidas simples e ao alcance de todos, como reduzir o tempo de banho e fechar a torneira ao escovar os dentes ou ensaboar a louça, podem resultar em até um terço de economia na utilização doméstica.
As mudanças no uso econômico, tanto agrícola quanto industrial, também podem cortar o consumo. Parte importante, porém, cabe aos governos, responsáveis por investimentos para resolver problemas estruturais.
Os vazamentos na rede de fornecimento drenam boa parte da água tratada. Há estimativas de que, em certos países, até 70% da água que sai dos reservatórios não chegue às torneiras, escoando por encanamentos mal conservados.
No Brasil, calcula-se que essa perda fique em 45%. A ampliação das estações e redes de tratamento de água é outro aspecto básico para fazer frente ao aumento do consumo. Afinal, do início ao fim do século XX, o uso humano de água aumentou seis vezes no mundo, sob o dobro do crescimento da população no mesmo período.
BRASIL EM BERÇO ESPLÊNDIDOO Brasil é privilegiado com relação aos recursos hídricos: 12% da água doce superficial do planeta corre em rios nacionais. Esse percentual é o dobro de todos os rios da Austrália e da Oceania; 42% superior aos da Europa; e 25% a mais do que os do continente africano.
Claro que, como ocorre em outros lugares, esses recursos estão geograficamente mal distribuídos. A região amazônica, na qual vivem apenas 5% dos brasileiros, acumula 74% de toda a água nacional.
A boa situação do país também se repete com relação às águas subterrâneas, os aqüíferos. Ao todo, o país dispõe de 27 aqüíferos, sendo o principal o Guarani, neste caso, localizado sob as regiões Centro-Oeste, Sul e Sudeste.
Mesmo assim, há problemas de longa data nunca resolvidos. O principal diz respeito ao abastecimento de água para parte da população do semi-árido nordestino. Nos últimos anos, a situação tem melhorado graças ao uso de carros-pipa e à construção de açudes e de cisternas.
Além disso, o governo federal começou as obras para a transposição das águas do rio São Francisco. A obra, porém, é polêmica: para seus defensores, vai garantir o abastecimento de água para populações em zonas críticas de seca; para os críticos, poderá prejudicar seriamente o São Francisco.